segunda-feira, 4 de julho de 2011

Loucos e Santos '-





Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.


Escolho-os não pela pele, mas pela pupila,


que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.


A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.


Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.


Deles não quero resposta, quero meu avesso.


Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.


Para isso, só sendo louco.


Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças


e peçam perdão pelas injustiças.


Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.


Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.


Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.


Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.


Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.


Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.


Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,


mas lutam para que a fantasia não desapareça.


Não quero amigos adultos nem chatos.


Quero-os metade infância e outra metade velhice!


Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;


e velhos, para que nunca tenham pressa.


Tenho amigos para saber quem eu sou, pois os vendo loucos e santos,


bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que


"normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.